Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza
DE SOL
A SOL
No dia seguinte, o sol nem tinha aparecido
e já estávamos a caminho da roça, todos os colonos, em grupos de quatro, seis,
oito, os moços rindo, os velhos calados.
Manhã orvalhada, dessas que a gente
pisa no capim e sai com a barra da calça molhada.
De sol a sol. Desde que o sol nascia
até quando ele desaparecia atrás do horizonte, a gente trabalhava de sol a sol.
Nosso grupo: na frente, vô Juvenal,
figura alta, chapéu na cabeça, enxada no ombro; logo atrás a mãe e eu. A mãe
numa tristeza magoada que a deixava tão bonita como uma santa.
- Tá sentindo alguma coisa, mãe?
- Não, filho. É só o dó de ver cê
largar a escola.
- Deixa, mãe...
- Se eu sabia de tudo isso, não tinha
largado seu pai...
- Ficava apanhando feito vaca na horta,
mãe? - perguntei do jeito que vó Luzia falava.
Mãe sorriu, num doce acanho:
- Não, filho. Esperava ele curar da
bebedeira, isto sim, conversava com ele. Quando estava no normal, era um homem
bom.
Então, enquanto a gente ia pra roça,
comecei a lembrar de meu pai: um homem forte, de cabelo crespo, dente de ouro
bem na frente, quando não estava bêbado, o olhar era limpo e tinha um jeito
aprumado de jogador de futebol. Costumava me chamar de moleque Nego: “Vem cá,
moleque Nego! Vem aprender a tocar viola com seu pai! Eu, sentado no colo dele,
dedilhava: “Não sai bonito como o d’ocê, pai! Pai me abraçava: “Um dia aprende,
moleque Nego! Aprende e vai ter o seu conjunto, viver de tocar nos bailes da
colônia, deixar essa vida sem eira nem beira”.
Naquele meu primeiro dia a caminho da
roça lembrei meu pai e senti um frio que me arrepiou e outra vez aquele aperto
na garganta: lá estava eu a caminho da vida sem futuro.
- Mãe, se o pai voltasse, mãe, cê ia
viver com ele?
Mãe pensou o prazo de um respirar:
- Ia, Neguito ia sim! Mesmo que ele
voltasse o mesminho, voltava pra ele... por causa da carestia, pra dar conforto
pr’ocês.
Não sei por que, senti alívio. E, de
repente reconheci que tinha saudades de meu pai.
Lucília Junqueira de Almeida Prado
1.
Indique o sinônimo das expressões destacadas em cada frase, utilizando o
seguinte código:
(A) timidez (C)
sem recursos
(B) molhada de orvalho (D) ereto
( )
“Manhã orvalhada, dessas que a gente
pisa no capim e sai com a barra da calça
molhada.”
( )
“Mãe sorriu, num doce acanho:”
( )
“O olhar era limpo e tinha um jeito aprumado
de jogador de futebol.”
( )
“Aprende e vai ter o seu conjunto, viver de tocar nos bailes da colônia, deixar
esta vida sem eira nem beira.”
2.
Copie as frases, substituindo as palavras destacadas por um antônimo
correspondente.
a)
Papai
era um homem forte, de cabelos crespos.
________________________________________________________________________________________________________
b)
“Naquele
meu primeiro dia a caminho da roça lembrei
meu pai e senti um frio que me
arrepiou.”
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.
Quando
e onde acontecem os fatos narrados pelo texto?
________________________________________________________________________________________________________
4.
Qual
o problema de família que o texto conta?
________________________________________________________________________________________________________
5.
Faça
um breve comentário crítico a respeito da seguinte afirmação feita pelo
narrador: “Lá estava eu a caminho de uma vida sem futuro”.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6.
Na oração do texto “e já
estávamos a caminho da roça.”, qual o sujeito da forma verbal estávamos? Como esse sujeito é classificado?
______________________________________________________________________________________________________
7.
Classifique
o sujeito das seguintes orações em simples,
composto, desinencial, indeterminado e inexistente.
a)
A
mãe e eu caminhávamos logo atrás. (________________)
b)
Comecei
a lembrar meu pai. (_______________________)
c)
Não
havia outra solução. (______________________)
d)
Meu
pai era um homem forte e honesto. (_______________)
e)
Na
roça, trabalha-se durante todo o dia. (________________)
9. Na oração “Meu pai tinha um
jeito aprumado de jogador de futebol.”, o sujeito classifica-se como
a)
Sujeito simples.
b)
Sujeito composto.
c)
Sujeito indeterminado.
d)
Sujeito oculto ou desinencial.
e)
Oração sem sujeito.
10. Assinale o item
em que aparece verbo de ligação.
a)
A
gente trabalhava de sol a sol.
b)
Os
colonos eram comandados pelo meu avô.
c)
O
olhar era limpo.
d)
Eu
tinha saudades de meu pai.
Bom
Desempenho!
“Somos
responsáveis por aquilo que cativamos.”